sexta-feira, 25 de junho de 2010

não sou essa

se eu fosse essa
caro amigo
eu nem me olhava tanto
não sou essa
mudo e sigo
sou eu mesma
a que persigo
com olhares
de grande espanto.


acordar

e a luz feriu-lhe os olhos.acordou-lhe a pele em carne viva.impunha-se-lhe enorme,como uma estrada negra de sentido único,uma faca branca,crua e afiada.sem piedade,o tempo dava as mãos à rotina accionando o guindaste invisível,a engrenagem imparável.pendurada por cabos,dobrou os joelhos,forçou as articulações e sustendo o peso do corpo desdobrado,contrafeito,iniciou a respiração consciente.cada inalação pisando-lhe o peito,hematomas invisíveis marcados a cada movimento lento.
depois era preciso andar.olhar-se no espelho.lavar-se.vestir-se.comer...falar.


paliativo

paliativo:
pesar as pálpebras
poisá-las em paz
plantá-las em pés
podar-lhes os olhos
comer-lhes marés

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há um lago

sim,há.

há um lago
estendido
nesse horizonte vago
dos olhos meus
engolindo a tristeza
dos pássaros planantes,

razando o sonho em vida.

sim,há.

há um vôo profundo
teimando.
e mergulha
na água desses olhos cinza,
num dia claro.

rezam cegas as vozes
de oiro,enlutadas,mortas,
e acompanham
num coro desfasado
todo o não entendimento
deste vôo singular.

e indiferente a isto
mergulha um pássaro
triste e belo
e ergue-se molhado
por cima da terra

desenha na linha paralela
um perfeito ciclo
que encerra
a mais bela solidão
em liberdade.

e todo o lago se detem
na imobilidade
mágica
de quem não chora água
nem canta lamentos

mas apenas desenha
palavras
aladas
sentidas
marcadas
no espaço vazio
e pleno

deste ar.

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